sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Amélia



















Conheci-te mãe
sem tempo nem hora,
sem limite nem desforra.

conheci-te mulher
atrevida na contra-mão,
com o mundo no coração.

conheci-te esposa
inteligente na paixão,
indiscreta na determinação.

As tuas rugas,
mãe-mulher-esposa,
são a minha lição.

FC/19novembro2015


terça-feira, 17 de novembro de 2015

«Em terras do islão»






















O Médio Oriente deve ser olhado pela perspectiva dos seus vários actores político-religiosos, refiro-me aos seus povos, e não apenas, como parece ser a tendência simplista, uma consequência directa ou indirecta das políticas ocidentais e orientais. Talvez estas tenham sido inteligentemente instrumentalizadas para servir os interesses jihadistas. Olhar a sua História ajudar-nos-á a encontrar a resposta mais adequada.

Nabil Mouline escreve um bom artigo sobre as raízes do jihadismo e o seu objectivo maior: a tomada do poder para além fronteiras. Para este autor, "tudo leva a pensar ... que o tradicionalismo religioso continuará a expandir-se, tanto mais quanto as sociedades civis são balbuciantes e o campo intelectual, em particular o modernista, está em ruínas" (para ler o artigo clicar na hiperligação abaixo).

Para Nabil Mouline, o fracasso ou mesmo a inexistência de um projecto de construção nacional permitiu aos grupos extremistas no Médio Oriente a utilização da religião, um refúgio por excelência e, por isso mesmo a ferramenta ideal, para a escalada de terror e reconquista islâmica (falamos da fracção mais radical) de território. Um Estado terrorista com ambições a Império. Auto-proclamado e determinado, ISIS utiliza a mentalidade árabe e a mitologia dos antigos impérios (segundo o autor do pequeno filme #WHYSYRIA [clicar na hiperligação abaixo]).  

A Europa e os USA, o mundo ocidental, estão na mira da grande expansão do wahabismo, a interpretação mais conservadora e exclusivista do islão, a única que se considera verdadeira, obrigada a impor-se a todas as outras.

Tomando o sentido do texto de Nabil Mouline, a NOSSA resposta a este ataque deverá passar pelo reforço da NOSSA própria sociedade civil (incluindo todos os estrangeiros que nela queiram participar e sobretudo todos os jovens nascidos em solo europeu, porque essa é a nossa realidade) e o reforço do NOSSO campo intelectual. Duas coisas que ficam no esquecimento quando entramos em cenário de guerra, mas que estiveram no esquecimento desde sempre.

Esta foi a fragilidade dos países desenhados a lápis por mão ocidental, no Médio Oriente.Esta será a nossa fragilidade se insistirmos na vacuidade intelectual, cultural, social e política dos diferentes povos da Europa.

FC/novembro2015










Nas raízes do Jihadismo. Escaladas tradicionalistas em terras do islão, por Nabil Mouline.
(Le Monde Diplomatique, 16 de Novembro de 2015)


e ainda:













#WHYSYRIA: La crisis de Siria bien contada en 10 minutos y 15 mapas.













quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O mundo pula e avança













Na política, a singularidade das decisões é uma consequência da pluralidade. Para crises políticas diferentes, e são sempre diferentes entre si, deve haver respostas diferentes. A queda do XX Governo Constitucional é um bom exemplo.

Não há regras gerais, no campo da política, aliás, a política é a possibilidade do novo, do imprevisto e do espontâneo, num contexto de pluralidade (diferentes entre iguais), onde se jogam, pelas palavras e pelo discurso, os assuntos humanos. A única regra geral é não haver regra geral, ou seja, a liberdade é o pressuposto fundamental da actividade política. Referimo-nos, naturalmente, à acção política propriamente dita, às palavras e ao discurso, ou seja, aos conteúdos. Uma liberdade garantida pelas instituições e pelas leis, tal como os muros da polis garantiam a liberdade na polis, tal como a Constituição garante a democracia portuguesa. Quem não percebe isto, nasce politicamente morto.

O XX Governo Constitucional foi formado por Passos Coelho, o cabeça de lista do partido (coligação, vá) mais votado, a convite do presidente da República, cumprindo-se a Constituição e a tradição. Prometida estaria a continuidade da crise política (porque apolítica) e da asfixia social, uma vez que tal governo pouco difere do seu antecessor. Mais quatro anos de neo-liberalismo em estado puro, protagonizados por Passos Coelho (muito longe da social-democracia que deveria representar), e pelo seu eco, Paulo Portas (esse sim, um homem da direita radical apesar do populismo). Uma parelha que chumbou em todos os objectivos a que se propôs, chumbo confirmado pelos indicadores nacionais, dos quais se sublinha o da dívida pública, o objectivo mais cego do governo XIX.

Dá-se o caso de haver quatro partidos que, não obstante as suas diferenças, são coincidentes na vontade de interromper o ciclo de destruição do tecido social e político português. Quatro partidos que, somados, são maioria em Assembleia da República. Esta é a circunstância motriz do momento actual, à qual a maturidade política da esquerda não foi indiferente. Em boa hora.

O XX Governo foi rejeitado pela Assembleia da República, que é, para efeitos de memória presente, «…  um dos órgãos de soberania consagrados na Constituição, além do Presidente da República, do Governo e dos Tribunais, é, nos termos da lei fundamental, “a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses”». Assim está escrito no portal da AR.   

A união à esquerda é um acto livre, legítimo e democrático, uma resposta diferente para uma circunstância diferente. Não há ofensa à democracia, há sim novidade. Uma novidade para nós, portugueses, mas uma prática comum nas democracias mais maduras como são, por exemplo, a da Dinamarca e da Noruega. Sinal de amadurecimento da política portuguesa? Assim o espero.  

União à esquerda. Uma acção concreta e definida, como outra coisa qualquer, apenas… à esquerda. Uma esquerda equilibrada pela diferença dos quatro partidos e, por isso, sem perigo de extremismos.

Quanto a nós, cidadãos deste país, crianças, jovens, adultos e velhos, voltamos a ser o principal tema das negociações. Que assim seja.   


FC/11Nov2015

quarta-feira, 4 de novembro de 2015


















O estranhamento comanda a escrita literária - eis uma das grandes lições que Mário de Carvalho, descrente assumido de pragmáticas e dogmáticas, nos oferece em Quem disser o contrário é porque tem razão. 

O livro parece ser escrito para jovens escritores, mas não é. Sem dizer o contrário, mas ainda assim julgo ter razão, também um não-escritor deve aventurar-se pelo inexplorado, procurar os invisíveis nos visíveis, espantar-se com as pequenas coisas, seguir os conselhos de Mário de Carvalho. Bem sei que não terá literariedade suficiente para transformar esse decalque em obra (coisa para artistas), mas descobrirá a beleza das perplexidades, a cumplicidade das palavras, a boa consciência. 

Viver com arte está ao alcance de todos. Espante-se, assombre-se, pasme-se, desfaça ou descongele o que a linguagem, através dos conceitos, afirmações, definições ou doutrinas, congelou. E não se esqueça o não-escritor: o estranhamento comanda a vida. 

Não se cruzam a realidade e a ficção? Então? A Marquesa saiu às cinco horas, nós sairemos às quatro e um quarto.

fc/26fev2015