sexta-feira, 3 de março de 2017

O Cotovelo











Fronteira entre braço e antebraço, o cotovelo é a capital de vários músculos e ossos. A sua posição estratégica liga a mão ao cérebro, sendo fundamental tanto no Body Pump do Luís Oliveira como no bitoque da Dona Deolinda.

Imaginemo-lo Constantinopla, ponto de encontro entre a Europa e a Ásia, capital de vários impérios e berço da cristandade, até porque há turcos envolvidos. Não esqueçamos, porém, que no mapa-mundi humano, o resto do território tem igual valor, não fosse o corpo que habitamos uma estranha democracia.

Protegida pelo cacau em percentagem arrojada, a cidade de Constantino, ou simplesmente cotovelo, apenas receia a faixa 9, que se impõe ao som de Feel so close, de Calvin Harris, e da voz do mestre Luís Oliveira: «E sobe e "dece"»... E a malta insiste e resiste. 

Somos lápis de cor? Não! Somos músculo, cérebro e mão. Provamo-lo noutra faixa de outro exercício, entre o chão e o step, ao batermos as palmas em contratempo, anulando os tempos fracos da música e do músculo. Tap, tap, toc, toc, bi-toque, bi-toque. O mestre sorri, discretamente.

Nem dor de cotovelo nem raivinhas nem bifanas de Torres Vedras. Bitoque! Mas bitoque, só mesmo o da Dona Deolinda (de Garvão, claro). O ovo vem da capoeira junto à linha do comboio que vai para um Sul quase paralelo ao de Constantinopla. Sempre se conheceram galinhas por ali.

A batata veio da Cordilheira dos Andes, em tempos muito idos. Hoje em dia, sobrepõe-se a todas as faixas e lidera os pratos portugueses. Se lhe dessem oportunidade, a faixa 9 não lhe escaparia. Quase tão redonda como o epicôndilo, a batata não sofre de esquisitices e transmuta-se em palito, repousando por pouco tempo no prato preparado pela Dona Deolinda. O bife é um mistério. Ninguém dá por ele mas, depois, ninguém o esquece.

Se sorte tivermos, por entre bebes e comes ouvir-se-á o cante entre amigos. O ponto, o alto e o coro, a reforçar o forte sabor a Alentejo. E desengane-se o mais convencido, porque se o cotovelo padecer de algum mal, perceberá o pobre coitado que terá igual dificuldade a levantar quer o garfo da Dona Deolinda quer a barra de pesos do Luís Oliveira.  


FC/Março2017